O HOMEM E SUAS MÁSCARAS

REFLEXÕES - O HOMEM E SUAS MÁSCARAS

O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha.
Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: "Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’? "
Respondeu a mulher à serpente: "Podemos comer do fruto das árvores do jardim,
mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ ".
Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão!
Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal".
Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.
Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.
Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim.
Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: "Onde está você? "
E ele respondeu: "Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi".
O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher. (Gênesis 2, 25 - 3, 10; 21.)


Antes de começar, acho importante explicar rapidamente o conceito de "eu real" e "eu ideal". "Eu real" é tudo aquilo que o homem realmente é, com suas fraquezas, defeitos, virtudes, fortalezas etc. "Eu ideal" se refere a tudo aquilo que o ser humano almeja ser. É a visão irreal que o homem tem de si mesmo.

Pois bem...

o homem e suas mascaras
É interessante notar qual foi a consequência primeira do pecado. O homem e a mulher, antes de comerem o fruto, estavam nus e não sentiam vergonha. Após toda a trama que o texto traz, o homem e a mulher se cobriram com folhas de figueira e se esconderam atrás das árvores do jardim, pois estavam envergonhados de sua nudez.

Percebe-se, portanto, que o homem (refiro-me à humanidade) antes do pecado se aceitava tal como era. Vivia e aceitava o seu "eu real" e se relacionava com Deus.  Após o pecado, porém, o "eu ideal" tomou o lugar do "eu real". O homem, por ter vergonha de si mesmo, usa "roupas" e "máscaras" para se cobrir.

Mais interessante ainda é notar que a roupa, como convenção social, traz justamente o contexto de que somos o que vestimos. Se queremos nos sentir seguros, vestiremos algo que nos faça sentir seguros. Se queremos nos sentir importante, vestiremos algo apropriado para isto. E assim por diante. A "roupa", no caso do homem no Éden, serviu para ele não se aceitar em sua condição de nudez. Serviu para cobrir sua exposição.



O pecado faz com que nós não nos aceitemos como frágeis. O orgulho, ocasionado pelo pecado, nos torna egoístas, com desejos de autossuficiência. O pecado nos faz colocar máscaras para esconder nossa verdadeira essência. O pecado nos faz ter medo de ficar expostos para Deus e para as demais pessoas.

O homem cria para si, então, uma roupa feita por ele mesmo (de folhas de figueira). O pecado nos faz criar alternativas para encobrir aquilo que realmente somos.
Deus, porém, como diz no final do texto, retira essas folhas de figueira e dá ao homem roupas de pele.

Aqui podemos ver a graça de Deus na vida do homem logo após o pecado. Deus poderia haver falado: "Agora vivam assim, cobrindo-se com estas folhas de figueira, que logo, logo vão romper. Eu lhes falei para não tomar do fruto! Agora se virem!". Vemos, porém, um Deus gracioso, que mata um animal para cobrir o homem com algo melhor e muito mais duradouro e protetor. Mesmo o homem não merecendo, Deus agiu com graça.

o homem e suas mascarasTrazendo para hoje, podemos refletir se estamos nos escondendo atrás de nossas folhas de figueira. Será que eu estou criando fórmulas para esconder aquilo que verdadeiramente sou? Será que finjo ser quem não sou por vergonha do que os demais possam pensar de mim? Será que eu me aceito da maneira que sou?

Devemos ser como era o homem antes do pecado. Devemos nos olhar na nudez de nossa essência, sem máscaras, sem roupas. Devemos ver somente aquilo que realmente somos e nos aceitar como realmente somos. Devemos nos olhar e aceitar da mesma maneira como Deus nos olha e aceita. Desta forma, Deus entrará com providência e nos vestirá da melhor maneira. Diferentemente da roupa que o homem se faz (que é uma máscara para se esconder), a roupa que Deus faz ao homem é a roupa da graça, aceitação, amor. Esta roupa é duradoura, abriga do frio existencial que sentimos e nos faz sentir amados, mesmo não merecendo.




Marcus Menegatti é o autor do blog TEO E VIDA e bacharel em Teologia, formado na Faculdade Batista - Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. 

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