CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉPOCA DE JESUS
QUAL ERA O CONTEXTO HISTÓRICO NA ÉPOCA DE JESUS?
Jesus nasceu na época do primeiro imperador romano (Augusto) e, provavelmente, perto do fim do reinado de Herodes, o grande [1] .
Roma tornou-se império após alguns acontecimentos que serão relatados a seguir.
Após o período de mais de cem anos de governo por parte dos macabeus [2], Pompeu conquista a Palestina, aproveitando-se da guerra entre os irmãos Aristóbulo II e Hircano II, filhos de Alexandre e Alexandra Janeu [3]. Tendo sido Aristóbulo II derrotado e levado cativo a Roma, a Hircano II foi-lhe restituído apenas o poder sacerdotal e Antípatro foi nomeado ministro e prefeito do palácio de Pompeu [4]. Desta maneira, a Judéia tornou-se província romana e, a partir daí, foi-lhe imposta o pagamento de tributos. A liberdade moral e religiosa, porém, foi reconhecida a todos os judeus [5].
Com isto, em Roma, o primeiro Triunvirato é estabelecido, exercido por: Pompeu, Crasso e Júlio César. Entretanto, os três brigaram pelo poder entre si, sendo que Júlio César e Crasso se mantiveram aliados por toda a vida, até a morte deste último. Morrendo Crasso, a aliança entre Júlio César e Pompeu ruiu de vez. Júlio César, porém, por ser mais poderoso e respeitado (devido a suas conquistas), venceu e assumiu o comando em Roma. Importante também é mencionar a ajuda de Antípatro prestada a ele no Egito, quando houve a guerra civil entre Julio Cesar e Pompeu. Com isto, em 47 a.c., Julio César, em troca dos favores recebidos, concede a Hircano II o título de etnarca dos judeus e a Antípatro, a nomeação de procurador [6].
Antípatro, agora procurador, concedeu a seus dois filhos, Fasael e Herodes, o governo da Judéia e Galiléia, respectivamente. Na Galiléia, Herodes começou a mostrar sua ambição e crueldade, esmagando implacavelmente, por exemplo, uma revolta neste lugar [7].
Em segundo plano, Júlio César havia sido assassinado por Bruto, e Otaviano surgia como, filho adotivo, herdeiro, conforme testamento, daquele. Juntamente com Marco Antonio e Lépido, Otaviano, formou o segundo Triunvirato e derrotou os assassinos de Júlio César .
Como aconteceu no primeiro Triunvirato, os três generais, inflamados por sua ambição de poder, lutam entre si. Lépido foi exilado e despojado de sua posição; Marco Antonio, sendo derrotado na Batalha de Ácio (por Otaviano), cometeu suicídio. Assim, Otaviano emergiu como primeiro imperador romano.
Neste ínterim, Herodes, inicialmente aliado de César, aderiu a Bruto. Com a morte, porém, deste, tornou-se partidário de Marco Antonio (antes dele cometer suicídio), o qual, convencendo a Otaviano, o apresentou ao senado como candidato a rei. Desta forma, em 40 a.C., o senado proclama Herodes "rex amicus et socius populi romani"(rei, aliado e amigo do povo romano) [8].
Quando da derrota de Marco Antonio na batalha de Ácio, Herodes se aproximou de Otaviano, que o confirmou como rei. Desta maneira, Herodes reinou a Judéia por 33 anos.
Constata-se que Herodes, o Grande, era uma pessoa extremamente fria e calculista. As diversas alianças e posteriores traições a quem se havia aliado, mostram sua ambição de poder. Não havia limites em suas condutas, pois queria se manter no poder a todo custo, chegando até mesmo a assassinar sua segunda esposa Mariamne, Aristóbulo III (irmão de Mariamne), último descendente dos hasmoneus, que era idolatrado pelo povo, e os filhos que teve com ela. Isso gerou ódio (que os fariseus ajudavam a alimentar) por parte dos judeus.
A notícia de que um possível rei nasceria em Belém foi, também, uma das tantas preocupações que Herodes tinha de perder seu trono. Por isso ordenou a matança de todos os meninos de menos de dois anos (Mt 2, 16-18).
O governo de Herodes, porém, em termos de desenvolvimento e estabilidade social, foi bom. Esta, particularmente, se deu por conta da tolerância religiosa aos judeus , que teve, porém, de ser compensada de outra forma: taxação de impostos [9].
Morrendo Herodes, por volta de 4 a.C., seu reino foi dividido entre seus três filhos: Arquelau, cruel, como seu pai, e rei da Judéia, Samaria e Iduméia; Antipas (conhecido como Herodes Antipas e por mostrar apreço à religião judaica), rei da Galiléia e Peréia; e Filipe, rei das regiões setentrionais, que, ao contrário de seus irmãos, governou com sabedoria sob a proteção romana [10].
Arquelau foi um etnarca que governou por 10 anos, sendo muito impopular entre os judeus. Alguns dos atos que cometeu, por exemplo, corroboraram para tal impopularidade: a morte de três mil judeus no pátio do templo (ao abafar um motim); a deposição (por duas vezes) do sumo sacerdote; e seu divórcio e novo casamento, contrariando a lei judaica. A “brevidade” de seu governo se deu por conta das queixas prestadas a Augusto contra ele por judeus e samaritanos. Ao ser banido do poder, a Judéia (como passou a ser chamada depois da junção da Judéia, propriamente dita, Samaria e Iduméia) ficou sob governo dos procuradores romanos (Copônio, Marco Ambíbulo, Ânio Rufo, Valério Grato, Pôncio Pilato etc.).
Antipas foi o responsável pela situação explosiva na Galiléia. Impôs alta carga de impostos ao povo judeu, para sustentar seus grandiosos projetos e a vida de luxo da corte [11]. Ficou marcado pelo casamento com Herodias, esposa de seu irmão Filipe, após haver repudiado Aretas e, posteriormente, pela morte de João, o Batista, por haver profetizado contra ele por esta atitude.
O contexto por trás da história da Palestina reforça a indignação por parte da maioria dos judeus na época de Cristo. O fato de perderem sua autonomia, conquistada com tanto esforço pelos macabeus [12], serem, algumas vezes, massacrados em massa e serem taxados com alta carga tributária era motivo da revolta dos judeus contra Roma.
É nesse contexto conturbado que Jesus nasceu e exerceu seu ministério.
Marcus Menegatti é o autor do blog TEO E VIDA e bacharel em Teologia, formado na Faculdade Batista - Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
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[1] ZUURMOND, Rochus. Procurais o Jesus histórico?. São Paulo: Loyola, 1998. p.53.
[2] THEISSEN, G.; MERZ, A. El Jesus histórico. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1999. p.179-182.
[3] O PERÍODO asmoneu. Cronologia da Bíblia. Disponível aqui.
[4] GUNTHER, Bornkamm. Jesús de Nazaret, Salamanca: Ediciones Sígueme, 1975. p. 29-31.
[5] SEEANNER,P. Jesus em seu contexto. Revista de magistro de Filosofia ano VII,n. 16, p.2, 2015. Disponível aqui.
[6] Ibid.
[7] SPIRO, R. K. History crash course #31: Herod the Great. Aish.com, 2001. Disponível aqui.
[8] SEEANNER,P., loc. cit.
[9] SILVA, R.M. A Judeia Romana: política, poder e desagregação econômica. p. 3. Disponível aqui.
[10] SEEANNER,P., loc. cit.
[11] BASTOS, Paulo R. da Silva Jesus de Nazaré e a Palestina do seu tempo: uma análise do Jesus histórico em relação à opressão econômica, social e política, p.106. Disponível aqui.
[12] THEISSEN, G.; MERZ, A. op. cit., p. 158-159.
Jesus nasceu na época do primeiro imperador romano (Augusto) e, provavelmente, perto do fim do reinado de Herodes, o grande [1] .
Roma tornou-se império após alguns acontecimentos que serão relatados a seguir.
Após o período de mais de cem anos de governo por parte dos macabeus [2], Pompeu conquista a Palestina, aproveitando-se da guerra entre os irmãos Aristóbulo II e Hircano II, filhos de Alexandre e Alexandra Janeu [3]. Tendo sido Aristóbulo II derrotado e levado cativo a Roma, a Hircano II foi-lhe restituído apenas o poder sacerdotal e Antípatro foi nomeado ministro e prefeito do palácio de Pompeu [4]. Desta maneira, a Judéia tornou-se província romana e, a partir daí, foi-lhe imposta o pagamento de tributos. A liberdade moral e religiosa, porém, foi reconhecida a todos os judeus [5].
Com isto, em Roma, o primeiro Triunvirato é estabelecido, exercido por: Pompeu, Crasso e Júlio César. Entretanto, os três brigaram pelo poder entre si, sendo que Júlio César e Crasso se mantiveram aliados por toda a vida, até a morte deste último. Morrendo Crasso, a aliança entre Júlio César e Pompeu ruiu de vez. Júlio César, porém, por ser mais poderoso e respeitado (devido a suas conquistas), venceu e assumiu o comando em Roma. Importante também é mencionar a ajuda de Antípatro prestada a ele no Egito, quando houve a guerra civil entre Julio Cesar e Pompeu. Com isto, em 47 a.c., Julio César, em troca dos favores recebidos, concede a Hircano II o título de etnarca dos judeus e a Antípatro, a nomeação de procurador [6].
Antípatro, agora procurador, concedeu a seus dois filhos, Fasael e Herodes, o governo da Judéia e Galiléia, respectivamente. Na Galiléia, Herodes começou a mostrar sua ambição e crueldade, esmagando implacavelmente, por exemplo, uma revolta neste lugar [7].
Em segundo plano, Júlio César havia sido assassinado por Bruto, e Otaviano surgia como, filho adotivo, herdeiro, conforme testamento, daquele. Juntamente com Marco Antonio e Lépido, Otaviano, formou o segundo Triunvirato e derrotou os assassinos de Júlio César .
Como aconteceu no primeiro Triunvirato, os três generais, inflamados por sua ambição de poder, lutam entre si. Lépido foi exilado e despojado de sua posição; Marco Antonio, sendo derrotado na Batalha de Ácio (por Otaviano), cometeu suicídio. Assim, Otaviano emergiu como primeiro imperador romano.
Neste ínterim, Herodes, inicialmente aliado de César, aderiu a Bruto. Com a morte, porém, deste, tornou-se partidário de Marco Antonio (antes dele cometer suicídio), o qual, convencendo a Otaviano, o apresentou ao senado como candidato a rei. Desta forma, em 40 a.C., o senado proclama Herodes "rex amicus et socius populi romani"(rei, aliado e amigo do povo romano) [8].
Quando da derrota de Marco Antonio na batalha de Ácio, Herodes se aproximou de Otaviano, que o confirmou como rei. Desta maneira, Herodes reinou a Judéia por 33 anos.
Constata-se que Herodes, o Grande, era uma pessoa extremamente fria e calculista. As diversas alianças e posteriores traições a quem se havia aliado, mostram sua ambição de poder. Não havia limites em suas condutas, pois queria se manter no poder a todo custo, chegando até mesmo a assassinar sua segunda esposa Mariamne, Aristóbulo III (irmão de Mariamne), último descendente dos hasmoneus, que era idolatrado pelo povo, e os filhos que teve com ela. Isso gerou ódio (que os fariseus ajudavam a alimentar) por parte dos judeus.
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A notícia de que um possível rei nasceria em Belém foi, também, uma das tantas preocupações que Herodes tinha de perder seu trono. Por isso ordenou a matança de todos os meninos de menos de dois anos (Mt 2, 16-18).
O governo de Herodes, porém, em termos de desenvolvimento e estabilidade social, foi bom. Esta, particularmente, se deu por conta da tolerância religiosa aos judeus , que teve, porém, de ser compensada de outra forma: taxação de impostos [9].
Morrendo Herodes, por volta de 4 a.C., seu reino foi dividido entre seus três filhos: Arquelau, cruel, como seu pai, e rei da Judéia, Samaria e Iduméia; Antipas (conhecido como Herodes Antipas e por mostrar apreço à religião judaica), rei da Galiléia e Peréia; e Filipe, rei das regiões setentrionais, que, ao contrário de seus irmãos, governou com sabedoria sob a proteção romana [10].
Arquelau foi um etnarca que governou por 10 anos, sendo muito impopular entre os judeus. Alguns dos atos que cometeu, por exemplo, corroboraram para tal impopularidade: a morte de três mil judeus no pátio do templo (ao abafar um motim); a deposição (por duas vezes) do sumo sacerdote; e seu divórcio e novo casamento, contrariando a lei judaica. A “brevidade” de seu governo se deu por conta das queixas prestadas a Augusto contra ele por judeus e samaritanos. Ao ser banido do poder, a Judéia (como passou a ser chamada depois da junção da Judéia, propriamente dita, Samaria e Iduméia) ficou sob governo dos procuradores romanos (Copônio, Marco Ambíbulo, Ânio Rufo, Valério Grato, Pôncio Pilato etc.).
Antipas foi o responsável pela situação explosiva na Galiléia. Impôs alta carga de impostos ao povo judeu, para sustentar seus grandiosos projetos e a vida de luxo da corte [11]. Ficou marcado pelo casamento com Herodias, esposa de seu irmão Filipe, após haver repudiado Aretas e, posteriormente, pela morte de João, o Batista, por haver profetizado contra ele por esta atitude.
O contexto por trás da história da Palestina reforça a indignação por parte da maioria dos judeus na época de Cristo. O fato de perderem sua autonomia, conquistada com tanto esforço pelos macabeus [12], serem, algumas vezes, massacrados em massa e serem taxados com alta carga tributária era motivo da revolta dos judeus contra Roma.
É nesse contexto conturbado que Jesus nasceu e exerceu seu ministério.
Marcus Menegatti é o autor do blog TEO E VIDA e bacharel em Teologia, formado na Faculdade Batista - Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
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[1] ZUURMOND, Rochus. Procurais o Jesus histórico?. São Paulo: Loyola, 1998. p.53.
[2] THEISSEN, G.; MERZ, A. El Jesus histórico. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1999. p.179-182.
[3] O PERÍODO asmoneu. Cronologia da Bíblia. Disponível aqui.
[4] GUNTHER, Bornkamm. Jesús de Nazaret, Salamanca: Ediciones Sígueme, 1975. p. 29-31.
[5] SEEANNER,P. Jesus em seu contexto. Revista de magistro de Filosofia ano VII,n. 16, p.2, 2015. Disponível aqui.
[6] Ibid.
[7] SPIRO, R. K. History crash course #31: Herod the Great. Aish.com, 2001. Disponível aqui.
[8] SEEANNER,P., loc. cit.
[9] SILVA, R.M. A Judeia Romana: política, poder e desagregação econômica. p. 3. Disponível aqui.
[10] SEEANNER,P., loc. cit.
[11] BASTOS, Paulo R. da Silva Jesus de Nazaré e a Palestina do seu tempo: uma análise do Jesus histórico em relação à opressão econômica, social e política, p.106. Disponível aqui.
[12] THEISSEN, G.; MERZ, A. op. cit., p. 158-159.
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